Fiquei olhando para a parede. Depois pra porta, pra fora e de volta pra parede. Rebobinando aqueles segundos.
Comecei a sentir a tensão quando te pedi pra levantar da cama e voltar a sentar da cadeira. Fiz questão de te olhar muito nos olhos, inclusive, porque houve essa reclamação. Você verbalizou o que estava rolando quando disse “Melhor eu ir embora, afinal sinto muita atração física por você e se fossem outros tempos a gente estaria rolando nessa cama”. Suspirei e pensei “ainda dá tempo…”.
Levantamos e alguns passos depois você pediu o abraço. Deve ter passado pela sua cabeça o mesmo que passou pela minha uns dias antes, quando eu é que estava na sua casa e fiz a mesma coisa. É que era tanto amor, tanto fogo, tanto sentimento… e de repente… puff: fazemos de conta que somos só conhecidos. Não dá, é tão brusco isso…
Então você me abraçou. Eu não queria que você me soltasse, nunca mais. Queria apertar o máximo meu corpo no seu, fazer você sentir a vibração do meu coração. Encostei meu rosto no seu pescoço quente. Senti seu cheiro, sua pele. Me concentrei pra guardar aquelas informações com cuidado.
Aí você me soltou, claro. Fui andando na frente pra tentar não chorar, abri a porta e saí. Começa aqui o meu curta-metragem.
Você disse um “vem cá”, eu me virei e o sol da tarde tinha deixado seus olhos verde-acastanhados da cor mais maravilhosa do mundo. Você ficou me olhando e eu te olhando de volta. Comecei a ficar doida com aquela situação, você só me olhava, não me puxava, não falava, não mexia, não se aproximava. Bateu um desespero: era a última chance. Foi quando as palavras escapuliram da minha boca “Eu te amo tanto…”. Foi assim, com reticências, para você completar com “eu também!”.
Você continuou me olhando, calado. Meu coração batia rápido demais, eu não sabia o que fazer. Esperar você responder? Esperar você se aproximar? Esperar você desistir?
Me aproximei. Já estava ficando com raiva daquela tortura. Me aproximei mais. Nada. Minha boca encostou na tua. Fechei os olhos, coloquei minha mão na sua nuca e comecei a te beijar devagarinho. No momento que seus braços entrelaçaram no meu corpo eu senti um alívio tão grande que minhas pernas tremeram. Afinal, você estava me beijando. Aquilo era alguma coisa.
Ficamos ali no sol, beijando. E me dei conta de que a diarista estava assistindo tudo a menos de 3 metros, da janela. Juro que pensei duas vezes antes de dar um passo pra frente e te obrigar a andar de costas. Deu medo de você aproveitar isso pra desistir, medo de você tropeçar… Mas você entendeu, subimos o degrau, passamos pela porta e eu te coloquei contra a parede. Apesar da boca seca de nervoso e dos mil pensamentos por segundo na minha cabeça, continuei tentando te dar o melhor beijo que era possível. Você passou a mão pelas minhas costas, sutilmente por dentro da minha blusa. Tive arrepios.
Decidi que era melhor parar um pouco, te abraçar, ver o que ia acontecer. Fiz todo pensamento positivo do mundo pra ouvir você me dizer que estava tudo bem, que a gente tava junto de novo.
– Desculpa, não dá, eu não consigo.
Poucas vezes na vida fui tão rápido de felicidade extrema a tristeza. Parecia que a sua saliva que ficou na minha boca, que os lugares onde a sua pele tocou a minha estavam me espetando, pra me fazer sentir que aquilo tudo não teve amor, aquilo não foi nada. De novo, aquele baque. Não sei como não chorei e só falei pra você ir embora. Pedi desculpas, você respondeu que ia me beijar de qualquer jeito.
Você entrou no carro e eu fiquei pensando se abria o portão do condomínio. A gente fica tão idiota quando ama que me passou pela cabeça que se eu não abrissse, você não sairia, se não saísse, talvez esfriasse um pouco a cabeça e daí talvez voltasse e me beijasse de novo. Ainda bem que eu imaginei você me ligando estressado dizendo que eu tinha esquecido de abrir o portão. Então fui lá e abri logo. Não era a droga de um portão de condomínio que ia trazer você de volta pra mim.
O mais engraçado dessa história toda é que você tinha vindo até aqui pra conversar, pois brigamos porque você foi pra aquele diabo de festa logo no dia seguinte que terminou comigo. Queríamos que fosse diferente, um relacionamento tão especial merecia virar uma amizade legal. Moral da história: amizade, só quando estivermos afastados o suficiente pra pararmos de discutir ou de sentir vontade de nos beijar. Se até lá a gente ainda vai fazer questão de tudo isso? “Ah, não faz pergunta difícil…”