As vezes a gente conta histórias. As vezes a gente ouve umas tão legais que sente aquela vontade de repassar – esse é o caso…
Ritual básico: o professor se apresentando para os alunos e os próximos seríamos nós. Pra ser mais exata, eu seria a segunda pessoa a falar e estava pensando no que responder…
Um resumo da vida do cara: O nome dele é Gustavo, só que por 15 dias ele se chamou Flávio, até que os pais mudaram de idéia. Da pré-escola ao pré-vestibular, morou ao lado de uma igreja, em frente a casa do padre e estudou num convento de freiras. O próximo passo foi entrar pra faculdade de jornalismo e se des-alienar. Logo no primeiro ano de estudo começou a trabalhar na área e aos 20 anos, já no final da faculdade, tinha uma experiência considerável pra conseguir um emprego bacana. Mas chutou o balde e foi viajar. Mochilou Brasil afora, até que em Maceió, depois de sempre cumprimentar às 5 horas da manhã um padre de um convento, falou:
– Padre, posso morar aí?
– Ué, meu filho, tem certeza?
O padre ligou pra mãe dele que morreu de rir. “Ele não vai ficar aí, mas deixa, que pelo menos ele não fica solto por aí”.
E não é que ele ficou 3 anos sem arredar o pé de lá? Ele jura que não faz idéia que desvio foi esse. Até que obrigaram ele a tirar umas férias e ele voltou pra Natal, sua cidade natal, onde sempre ocorria, na época do Natal, o CarNatal, [fim das repetições] carnaval fora de época que o fez voltar a realidade e desistir de retornar ao convento.
Daí, ele se casou e teve um filho. Daí separou. Daí um belo dia a ex-mulher liga dizendo que ele tinha ganhado uma grana preta na loteria federal.“Mas como, se eu não jogo?!”. Descobriu que estava escrito no contrato do plano de saúde dele que parte da mensalidade era aplicada na loteria.
O cara não pensou duas vezes: comprou uma mochila, uma barraca, pediu demissão da faculdade onde dava aula e foi se perder mundo afora. Passou 4 anos torrando a grana pela Europa e América latina, a pé, sozinho. Fora os custos de viagem, o resto do dinheiro foi gasto com cd’s e livros. Nada de fazendas, apartamentos ou carros.
Nesse tempo, em algum momento, ele teve seu primeiro contato com Brasília: “Acampei na Esplanada e quando fui dormir esqueci os chinelos de fora da barraca. Quando acordei só tinha um pé. Disseram que foi um cachorro. Calcei o pé que tinha e fui até o Shopping Conjunto Nacional comprar outra.”.
Foi quando o dinheiro estava prestes a acabar que ele estava na beira da praia lendo o jornal “Correio Brasiliense” e observou um anúncio dos classificados: a universiade Ceub desejava contratar um professor de jornalismo. E lá se foi ele de volta pra capital. Até que foi demitido do Ceub. E depois do Iesb. E depois da Facitec. Alega que os cursos eram porcarias e batiam contra as filosofias dele sobre comunicação. Aliás, esse é o tema de um dos 10 livros dele. E voltando ao assunto, disse que se orgulha muito de ter sido demitido, e mais ainda da mulher responsável pela demissão dele no Iesb, que disse “você não é um professor, é um poeta”. Ele não podia ter ouvido elogio melhor.
“Outro dia encontrei a mulher numa cafeteria.
– E aí, ta aonde?
– Na UnB. – Respondi quase explodindo o peito de orgulho de ter passado naquele concurso. Ela não disse nada.”
… Enfim pessoal, essa é minha apresentação. Agora é a vez de vocês.
Beleza, quase falei: “Oi, meu nome é Vivianne, tenho 19 anos e tô indo ali providenciar uma viagem pra mim. Beijos, fui.”